terça-feira, 15 de julho de 2025

CARNAVAL

 

O CARNAVAL EM SAMBADE

Logo de manhã cedo se sentiam as bombas a alertar a chegada do Entrudo. Sentia-se o chiar dos carros, uns após outros, muito enfeitados. Atrás deles vinham rapazes montados em cavalos enfeitados com bexigas de porco, cheias de vento para bater com elas na cabeça das pessoas.
Em seguida, aparecia um rancho de raparigas e rapazes cantando ao som de música, muito enfeitados. Os rapazes traziam nas mãos saquinhos com farinha para enfarinhar o rosto das raparigas.
À tarde, pelas 4 horas, tocavam os sinos anunciando que iam ler as Deixas do Entrudo.

As Deixas são uns versos que um rapaz vestido de Carnaval lê para toda a gente ouvir, dedicadas às raparigas. Sobe a uma varanda, e em baixo está toda a gente ouvindo. Vou escrever algumas delas:
Deixo à Maria Antónia
Por ter o olhar fagueiro
As ceroulas do Entrudo
Para oferecer ao testamenteiro.
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Deixo à Belmirinha
Por andar devagarinho,
O Entrudo já a viu
A namorar num cantinho.
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Deixo mais à mana
Por se chamar Branca Flor
Os sapatos do Entrudo
Para oferecer ao amor.
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Deixo à Constância,
Por ter bom coração
O chapéu do Entrudo
P’ra ir à feira no verão.
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Ao anoitecer, vão enterrar o Entrudo. É um boneco de palha dentro de um caixão.
Levam luzes, água para benzerem o Entrudo. Um rapaz faz de padre, cantando os responsos. Vai toda a garotada atrás, gritando com força, despedindo-se do Entrudo, até para o ano.
RECOLHA (1985) de Judite Morais Moreno, Sambade – Alfândega da Fé.

CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005