A Senhora das Neves é a Senhora a quem recorre a maior parte dos Sambadenses, em momentos de aflição. A Senhora da Assunção é a padroeira da freguesia, mas a Senhora das Neves é a “Nossa Senhora” de todos os Sambadenses
A festa de Nossa Senhora das Neves faz-se há centenas de anos sem, contudo, sabermos precisar a data de início desta Romagem.
A primeira referência histórica a que tivemos acesso reporta-se às Memórias Paroquiais de 1758, escritas pelo padre Joaquim Lopes de Azevedo, reitor da freguesia, e que sobre o assunto, refere:
Tem o lugar de Covellas, a que vulgarmente chamam Quinta, anexa desta Freguesia, huma Ermida de Nossa Senhora das Neves sita fora da mesma povoaçam pella parte de cima para a parte da Serra dois tiros de espingarda, e tambem pertence a esta Freguesia a Fabrica della, e nesta he que está erecta a Confraria de Nossa Senhora das Neves.(...)
14. A estas Ermidas nam acode Romagem mais que a de Nossa Senhora das Neves em dia da sua Dedicaçam a sinco de Agosto: em que se faz huma Feirinha ao pe do povo adjunto com algumas tendas, fructos louça e outras mais cousas, e pelo discurso do anno lhe levam os devotos algumas esmolas poucas.
Esta Ermida da Senhora das Neves estava situada no local que hoje conhecemos, a uma distância de dois tiros de espingarda e aí existia uma Confraria, a de Nossa Senhora das Neves.
A única romagem de Sambade era em honra da Senhora das Neves, a cinco de Agosto. De referir que durante o ano, os devotos levavam algumas esmolas poucas. Poucas por razões que se adivinham. Depreende-se também, que a Senhora das Neves estaria permanentemente na sua capela em Covelas.
Pinho Leal, (século XIX) dá-nos alguns dados curiosos sobre o assunto:
Em Covellas há uma grande capella, com a dedicação a Nossa Senhora das Neves; esta é ainda moderna, mas já não é a primitiva. Há nesta capella um tronco de uma árvore, que, segundo a tradição existia já, quando se começaram os alicerces para a primitiva capella; e que o motivo de se alli levantar a mesma foi, porque apareceu Nossa Senhora sobre o tronco da mesma arvore, entre um círculo de neve, cujo espaço era o que devia ocupar a capella que a mesma Senhora queria que ali se edificasse.
Poderemos aqui estabelecer um paralelismo com o que se passou em Roma, no século IV, e o que aconteceu na serra de Montemel: a cinco de Agosto, num ambiente inesperado - a neve, a Virgem apareceu e indicou o local da construção de capelas em sua honra – em Sambade construiu-se a capela da Senhora das Neves e, em Roma a Basílica de Santa Maria Maior que comemorou, no passado dia 5 de Agosto, o “ Milagre da Neve”.
Não se pretende sugerir que a devoção à Senhora das Neves remonte a um período tão recuado. A referência pretende apenas estabelecer situações similares
As festas da Senhora das Neves têm lugar no terceiro domingo de Agosto e são o momento mais significativo da vida da comunidade de Sambade.
Este ano, o executivo da Junta de Freguesia de Sambade presenteou as comunidades de Vila Nova e Covelas com dois nichos, com uma belíssima imagem da Senhora das Neves, por altura das festas.
Sentiu-se uma alegria enorme da parte de todos os habitantes desses lugares e fizeram questão de versejar o acontecimento com mensagens poéticas de sabor popular, que enquadraram muito bem todos os passos deste evento.
De facto, a Senhora das Neves é, sem dúvida a Senhora de todos os Sambadenses. A aldeia enche-se de filhos da terra, muitos dos quais tiveram de partir para outros locais em busca de sustento para si e para os seus.
É a “Nossa Senhora” que recorrem os Sambadenses em momentos de aflição. Tal como no passado, o cumprimento das promessas pelos benefícios recebidos é feito na procissão que leva a “Senhora” para a capela de Covelas, domingo, ao fim da tarde.
A muda da Senhora remonta, pelo menos ao século XIX. Pinho Leal dá-nos a seguinte informação:
E quando a falta de água se faz sentir, trata-se de levá-la em procissão para a Igreja da freguesia, para ali pedir socorros por meio de novena (...) a Senhora conserva-se depois aqui até ao dia da sua festa...
Este ano, uma vez mais, a festa esteve animada e a Comissão de Festas está de parabéns pelo êxito verificado. Permitam-me que realce um evento a que os Sambadenses não estavam habituados: O Concerto de música Sacra, na Igreja Matriz, da responsabilidade do grupo “A Cappella Douro”, a convite do pároco de Sambade, Francisco Pimparel, foi este um momento alto das festas da Senhora das Neves.
1-LOPES de AZEVEDO, Francisco, Memórias Paroquiais de Sambade, Memórias Paroquiais de 1757 (A.N.T:T.), Dicionário geográfico, vol. 33, Memória 36, folios 247-261. MF 564.
2-PINHO LEAL, Portugal Antigo e Moderno, p. 376.
Lourdes Graça
Camelo Silva
